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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

"A vítima só tem a boca para gritar", diz delegada sobre assédios no transporte público

Estação Tatuapé (Linha 11-Coral)
A história se repete quase que diariamente. De um lado, uma mulher dentro do transporte público, do outro, um encoxador e até mesmo um estuprador, que se aproveita da superlotação do transporte e do machismo da sociedade para fazer mais uma vítima. E uma das pontas que podem ajudar a diminuir os casos é a aplicação correta da lei, porém, muitas vezes ela depende da interpretação do delegado que atende a vítima.
A delegada Deise Brasil, da 5º Delegacia da Mulher, na Vila Zilda, zona leste de SP, não teve dúvida de que se tratava de um crime de estupro a situação vivida por uma jovem de 18 anos na terça-feira (15/09/2015), dentro de um trem, entre as Estações Itaquera e Tatuapé da CPTM.
Um homem de 54 anos se esfregou na vítima, teve uma ereção, ejaculou e a agrediu fisicamente. A reação da jovem foi gritar e o homem acabou apanhando de diversos usuários do trem e preso em flagrante pelo crime de estupro.

O caso é muito semelhante ao que aconteceu com uma repórter do R7, em maio deste ano, porém, no boletim de ocorrência desse caso consta a contravenção de perturbação da tranquilidade. Mesmo com flagrante, muitas vezes, o agressor apenas assina um termo circunstanciado e sai pela porta da frente da delegacia, frustrando às vítimas.

A reportagem conversou com a delegada Deise sobre o enquadramento de estupro. Confira a entrevista:
R7 - Por que você decidiu enquadrar o suspeito no crime de estupro?

Deise Brasil - O homem se aproveitou de um trem lotado, viu a vítima e chegou a ejacular nela. Nessa situação, a única coisa que resta para a vítima é a boca para gritar. O enquadramento jurídico fica a cargo do delegado e, nesse caso, para mim, com base na lei, foi estupro. Depois encaminhamos o registro para o juiz, que ratifica ou não o crime.

R7 - Casos semelhantes são tratados de forma diferentes em outras delegacias. Ao que você atribui isso?

Deise - O que acontece em outras delegacias, eu não sei te dizer. Mas, se a conduta do autor se enquadra na descrição do crime de estupro, não há outra alternativa. Mesmo sem a presença do autor é possível fazer um boletim de ocorrência de estupro de autoria desconhecida.

R7 - Você acredita que mais enquadramentos de estupro, e não de perturbação da tranquilidade, poderiam ajudar a dar mais visibilidade para os casos de abusos no transporte público?

Deise - Com o aumento de casos, o poder público tem que tomar mais atitudes. Educação e ações de combate o assédio também são de extrema importância. Aqui [na delegacia], eu faço a minha parte.
 
Fonte da Notícia: Portal R7 
Imagem de Felipe Golfeto

terça-feira, 28 de julho de 2015

'Pensei que fosse falecer', diz torcedor agredido na CPTM

Agressão relatada na CPTM
A polícia de São Paulo prendeu três homens da torcida organizada do Palmeiras por espancar três corintianos dentro de um vagão da CPTM. Para identificar e prender os suspeitos foram quase nove meses de investigação. Crimes como estes estão cada vez mais comuns. Só este ano dez pessoas foram presas por se envolver em brigas entre torcidas.

Os passageiros do vagão, mostrado pelas câmeras de segurança, não tinham ideia do que estava para acontecer, principalmente três rapazes, torcedores usando camisas de uma torcida organizada do Corinthians, a Pavilhão Nove. Eles estavam a caminho do estádio do time. Na sequência, uma cena forte, de uma violência sem justificativa.

Não foi uma briga motivada por ofensas dentro do trem. O plano dos agressores começou a ser colocado em prática ainda na estação. São 12 homens. Eles se reúnem perto das catracas. Em bando, andam em direção ao embarque.

A polícia já sabe que um homem de casaco preto é Rafael la Laina e o de azul é Jackson  Dionísio. Logo atrás, de camisa branca, Sandro de Souza. Todos são integrantes da torcida organizada do Palmeiras, a Mancha Alviverde.

Passageiros assustados tentaram fugir

Segundo o relato das vítimas, na hora que o trem parou, um deles foi até a porta e olhou dentro do vagão. Assim que ele identificou a presença dos três rapazes, ele segurou a porta para que o resto do grupo entrasse. Aí a agressão começou.

Assim que eles entram, já vão direto nos alvos, dois corintianos na parte esquerda do vídeo e um à direita. O primeiro soco parte de Sandro de Souza. É o estopim para a agressão começar. Uma das vítimas corre para o fundo do vagão, mas é cercado pelos agressores. Passageiros assustados tentam fugir.

Enquanto isso, Rafael la Laina dá chutes e socos em um outro corintiano, que em seguida é arrastado pelo chão e cercado novamente por outro grupo de palmeirenses. Um deles, de camisa vermelha, chega a subir no banco para pisar na vítima. De casaco azul, Jackson Dionísio também ajuda na pancadaria. Mesmo caído, um dos corintianos continua apanhando. Toda essa violência só terminou quando o trem chegou na estação seguinte. As cenas de brutalidade aconteceram em outubro de 2014. Mas só agora, em entrevista exclusiva ao Fantástico, duas das três vítimas contaram o terror que viveram.

“Eles falaram que alguns integrantes da Gaviões tinham batido nos da Mancha e eles estavam lá para devolver. Eu tive lesões na parte da costela e na parte do ouvido também”, conta uma das vítimas.
“Até então, a gente nuca se envolveu em briga, até porque a gente não frequentava jogos do Corinthians. Nunca tivemos nenhum tipo de encrenca, de rixa com alguém de torcida organizada. Quando eu levei o primeiro soco, eu caí no chão e só pensei em me proteger. Depois, eu pensei que eu fosse falecer, porque foi muito forte”, relembra outra vítima. 

Técnicos mapearam redes sociais dos suspeitos

Foram quase nove meses de investigação. Técnicos analisaram as imagens do circuito interno e mapearam as redes sociais dos suspeitos. 

Esta semana, uma operação da polícia conseguiu prender três torcedores palmeirenses: Rafael la Laina, Jackson Dionísio e Sandro de Souza. Eles confessaram a participação na agressão. A polícia ainda tenta confirmar a identidade dos outros agressores. O Fantástico procurou o advogado que defende os palmeirenses, mas ele não quis se manifestar.

“Nós já conhecíamos o Rafael. É um estudante de engenharia, já formado em ciência da computação, um rapaz de classe média, mora aqui na capital, já foi investigado por envolvimento em outras brigas.”, diz o delegado Mário Sérgio de Oliveira Pinto.

Só este ano foram registrados 16 casos de briga entre torcidas, dois deles com morte. Dez pessoas foram presas.

“É muito importante para você acabar com essa sensação de impunidade que existe na praça esportiva. Segundo pesquisas recentes, 60% dos torcedores que deixam de ir ao estádio de futebol é por causa da violência, principalmente das torcidas organizadas”, aponta o promotor de Justiça Paulo Castilho.

O titular do Juizado do Torcedor de São Paulo diz que, desde que o problema começou a ser tratado como questão de segurança pública, os resultados começaram a aparecer.

“Mais ou menos 40 torcedores afastados diminui a violência ou o objetivo ideal irradicá-la, para que o torcedor comum volte ao estádio e os pseudotorcedores, que são aqueles que usam do futebol como pretexto para praticar crime ou atos ilícitos, esses sejam afastados”, diz o juiz Ulisses Pascolati.

O desafio é grande. Enquanto a violência entre torcidas for a regra do jogo, o futebol será exceção nos planos de quem quer se sentir seguro.

“A gente tem medo exatamente por causa disso. Os torcedores saem de casa, para falar a verdade, nem sabe se vai voltar vivo, né? Agora já vem aquele filme, né, do que eu vivi. E eu pensei muito, muito. Eu tenho vontade de voltar a ver os jogos do Corinthians, mas eu penso mil vezes antes de voltar ao estádio”, conta uma vítima.

Correção: na reportagem exibida na TV e na primeira versão do vídeo aqui publicado, um dos acusados foi identificado como Jackson dos Santos. O nome correto é Jackson Dionísio. A reportagem foi corrigida às 16h50.

Fonte da Notícia & Imagem: G1-Fantástico