Levantamento exclusivo do Diário de São Paulo, fornecido por meio
da Lei de Acesso à Informação junto ao Tribunal de Justiça do estado de
São Paulo, mostra que, em dez anos, o número de ações indenizatórias
contra a CPTM por danos
materiais ou morais, perdas e danos e acidentes de trânsito cresceu
37,5%.
Foram
141 processos abertos no ano de 2004, contra 194 em 2013. Se comparados
os números de 2012 e 2013, a diferença é ainda maior: 106 para 194, um
aumento expressivo de 45%.
As
reclamações na ouvidoria, fornecidas pela CPTM e registradas desde
2006, ano em que teve início o levantamento, também cresceram, porém, em
menor escala. Enquanto em 2006 o número registrado foi de 2.184, em
2013 as ações chegaram a 2.350. O pico foi em 2009, com 4.407 queixas.
Conforto (lotação), regularidade (intervalo) e atendimento (informação)
são os principais problemas alegados pelos usuários.
Ações
judiciais envolvendo acidentes também não são raras. O caso do
digitador Weslei Duarte, de 46 anos, que caiu no vão entre o trem e a
plataforma, resultou em uma delas. A CPTM nega a versão dele (veja mais
abaixo).
A
companhia informa que em 2004 transportava a média de 1,2 milhão de
passageiros por dia útil. Hoje, são 2,8 milhões. “Como se pode notar, a
companhia mais que dobrou o número de passageiros transportados neste
período, enquanto o número de ações se manteve estável”, diz a empresa.
SPTrans/
Na contramão dos trens, os ônibus da capital paulista apresentaram
queda de 43% no número de ações indenizatórias dos usuários do sistema.
Dez anos atrás, 265 processos foram abertos. Em 2013, o número foi de
150 ações judiciais. O ano em que os advogados da Prefeitura tiveram
mais trabalho nessa questão foi 2006, quando 740 ações foram abertas na
Justiça.
A
SPTrans, responsável pelo do transporte municipal, preferiu comentar
somente os números de reclamações de 2013 para cá, período da
administração Fernando Haddad. A empresa destaca a utilização das
queixas dos usuários como ferramenta para melhorar continuamente o
trabalho.
ENTREVISTA COM O DIGITADOR WESLEI DUARTE:
O
digitador Weslei Duarte, de 46 anos, se diz vítima da companhia
estadual. Em agosto de 2012, ele esperava um trem na Estação Presidente
Altino, localizada na Linha 8-Diamante da CPTM. Quando entrava no trem, a
porta fechou sem que o aviso sonoro tivesse soado, diz. Segundo conta, o
braço ficou preso e ele acabou caindo no vão entre o trem e a
plataforma ao dar um passo para trás.
DIÁRIO_ O que houve naquele 29 de agosto de 2012?
WESLEI
DUARTE_ Eu retornava do trabalho, por volta das 19h30, e o trem parou.
Quando entrei, a porta fechou de repente, sem que o aviso sonoro tivesse
soado. Meu braço ficou preso, mas consegui me soltar. Só que acabei
dando um passo para trás e caí no vão. Ninguém da CPTM veio me ajudar.
Tive de sair sozinho do buraco. Sorte que o trem não andou.
Mas você não foi socorrido?
Duas
senhoras viram meu desespero e chamaram os seguranças. Eles me levaram
de cadeira de rodas até a sala de operações. Eles riam da minha cara e
demoraram demais para pedir autorização a uma pessoa para chamar uma
ambulância.
Você se machucou muito?
Quebrei
o ombro em quatro partes, passei por cirurgia e fiquei quase um ano
afastado do trabalho. O pior de tudo foi que fiquei com sequelas. Não
consigo mais levantar o braço. Moro sozinho e não levo mais uma vida
normal.
Você ainda pega o mesmo trem?
Infelizmente,
sim. Moro em Perus e trabalho no Jaguaré (Zona Oeste). É sempre um
trauma aquela estação. Outro trauma é a cicatriz de 14 centímetros que
herdei da cirurgia.
Análise: Maurício Jannuzi, presidente da Comissão do Trânsito da OAB-SP
Usuário tomou consciência
O
aumento no número de processos contra a CPTM é um termômetro que aponta
uma conscientização do usuário. Os passageiros descobriram que podem
reclamar, que podem buscar seus direitos. O fato de o número de usuários
ter crescido não pode servir de desculpa para a má qualidade do serviço
prestado. A responsabilidade objetiva dos problemas é da companhia e
ela tem o dever de dar qualidade a quem utiliza o transporte.
Defensora pública critica serviços da companhia
Para
a defensora pública Betânia Devechi Ferraz Bonfá, advogada de Weslei
Duarte, casos como o do digitador só evidenciam a “falta de segurança”
nos serviços da CPTM. “O número de usuários cresceu, sim, mas a
segurança não acompanhou (o aumento na demanda). E o fato de os agentes
terem demorado para prestar socorro também aponta problemas no
atendimento desse tipo de ocorrência”, afirma ela.
Porém,
a CPTM tem outra versão para o caso e enviou imagens das
câmeras de segurança do dia do acidente. No vídeo, o digitador aparece
correndo nas escadas e tenta entrar no trem enquanto a porta já se
fechava, após a sinalização sonora.
“Como
não houve tempo hábil para ele entrar na composição, ele acabou caindo
no vão de 20 centímetros (e não de 45 centímetros, como diz a defesa).
Dois agentes o socorreram, como revelam as imagens anexas ao processo
judicial”, destacou a companhia.
Buraco, outro questionamento da Defensoria diz respeito à largura do vão do
trem, o que, argumenta a defensora Betânia, representa perigo à vida dos
usuários. A CPTM explica que o tamanho, de 20 centímetros é devido ao
compartilhamento entre os trens de passageiros e os de carga, que são de
tamanho diferente e de responsabilidade do governo federal. “Para
reduzir esse espaço, a frota está equipada com estribos (extensores de
piso).”
Ainda
conforme a CPTM, nos últimos dez anos o estado investiu R$ 7 bilhões em
construção e modernização de estações e foram adquiridos 105 novos
trens. Para os próximos três anos “estão encomendadas mais 65
composições”.
Fonte da Notícia: Diário de São Paulo
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