Os anos de estudo em torno do maior gargalo
ferroviário do Brasil não foram suficientes para tirar o Ferroanel de
São Paulo do papel, apesar do ultimato dado pela presidente Dilma
Rousseff em 2012. Considerado prioritário para destravar o acesso ao
Porto de Santos e acabar com o conflito entre trens de passageiros e de
carga dentro da cidade de São Paulo, o projeto agora pode mudar de mãos.
Pelo menos, na parte administrativa, de elaboração do projeto.
O
presidente da Dersa - Desenvolvimento Rodoviário, Laurence Casagrande
Lourenço, diz que o Estado negocia com o governo federal a possibilidade
de São Paulo elaborar o projeto executivo e o licenciamento ambiental
da obra no tramo Norte (entre Jundiaí e Manoel Feio, em
Itaquaquecetuba).
Segundo
ele, com a construção do Rodoanel, o governo estadual adquiriu elevado
nível de informação sobre a área, o que pode facilitar no processo do
anel ferroviário, orçado em cerca de R$ 2 bilhões. "É o passo a mais que
o Ferroanel está precisando para sair do papel."
Lourenço
destaca que, para a transferência de atribuições ser feita, o governo
federal precisa criar uma ferramenta legal - um convênio, por exemplo,
resolveria o problema. O custo do projeto executivo e do licenciamento
está calculado em torno de R$ 15 milhões, diz ele. As negociações estão
sendo tocadas com a EPL e com o
Ministério dos Transportes. Procurados, os dois órgãos afirmaram apenas
que o assunto está em análise.
Hoje
as cargas que vêm do interior de São Paulo, pela linha da
concessionária MRS, são obrigadas a passar pelo centro da capital para
chegar a Santos - ou vice-versa. Como a CPTM tem prioridade para o
transporte de passageiro, as composições com carga apenas podem trafegar
pelos trilhos durante a noite. "São 50 ou 60 composições por mês
(considerado pouco). Se a CPTM decidir diminuir o intervalo dos trens,
fica inviável passar carga."
A
proposta feita por São Paulo seria a segunda parceria com o governo
federal no projeto do Ferroanel. Em 2012, ficou acordado entre ambas as
partes que o governo paulista faria a terraplenagem de 44 quilômetros do
anel ferroviário junto com o Rodoanel Norte. A medida resultou numa
economia de R$ 1 bilhão para o governo federal, afirma Lourenço. "O
acréscimo de obras significou aumento de R$ 300 milhões no Rodoanel -
recurso que está sendo repassado pela União - e uma economia de R$ 1,3
bilhão no Ferroanel."
Com
o trecho Norte, a capacidade de transporte de carga vai aumentar, já
que os trens poderão circular a qualquer momento pelos trilhos. Além
disso, tem potencial para elevar a participação do transporte
ferroviário no Porto de Santos - apenas 10% dos granéis chegam ao
estuário santista por meio de ferrovias. A maioria das mercadorias que
entram e saem do maior porto do País é transportada por meio de
caminhão.
Trechos
Nos
planos do governo federal, o Ferroanel deverá ter ainda outros dois
trechos para contornar São Paulo. O Sul vai margear o Rodoanel Sul,
entre a Estação Evangelista de Souza e a cidade de Ribeirão Pires. O
trecho Noroeste ligará a malha até Evangelista de Souza.
A
prioridade, no entanto, é o tramo Norte, que tem maior potencial de
transporte. Quando concluído, será responsável por 90% da demanda do
Ferroanel. Segundo projeções da ANTT, o trecho movimentará cerca de 40 milhões de toneladas
de carga até 2040,sendo24 milhões com destino ao Porto de Santos.
Conseguir
tirar o Ferroanel do papel seria um grande avanço no setor. Hoje boa
parte dos projetos está emperrada, com questionamentos do TCU sobre custos ou sobre as novas regras. O anel
ferroviário de São Paulo deverá entrar no novo modelo do setor: uma
empresa constrói a ferrovia, a Valec compra a capacidade e vende para o
operador logístico.
Fonte da Notícia: O Estadão de SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário