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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

CPTM: Inferno por 4 Horas diárias

 
Os cerca de 15 mil passageiros que, diariamente, embarcam nas estações Jundiaí, Várzea Paulista, Campo Limpo Paulista ou Botujuru com destino a Francisco Morato - e, de lá, para a Luz - podem fazer duas viagens distintas para a Capital. Numa, no horário do rush (que, para a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos começa às 5h e vai até às 8h30; depois, novamente entre 16h30 e 19h; e das 21h até por volta de meia-noite), os trens circulam com intervalo médio de quatro a sete minutos e as condições são críticas, mas não custa recapitular a cena: cerca de 250 pessoas vão se espremendo em cada vagão.

O passageiro é empurrado para entrar, arrastado para um canto, leva alguns pisões, fica sem controle algum sobre para onde ir. Quando as portas se fecham, sequer precisa de apoio para se segurar. Está entalado entre os demais trabalhadores. Mas tudo pode piorar: alguém, bem ao lado, com certeza ligará o telefone celular, tocando um rap, funk ou pancadão. Para todo o vagão curtir o hit, claro, porque o sujeito em questão não usa fones de ouvido. Na hora de sair, o passageiro será ´cuspido´ para fora, provavelmente já na Barra Funda ou Luz. Estará suado, descabelado, roupa amassada... E, ainda assim, o dia só estará começando.

Mas há, também, a classe "econômica". Nesta, o afortunado passageiro que embarca a partir das 9 ou 10 horas, em direção à Capital, terá de esperar um pouco mais pelo trem (o intervalo médio, passado o rush, sobe para oito minutos, segundo a companhia). Mas o usuário que embarca em Francisco Morato irá (provavelmente) sentado, com portas fechadas, num ambiente limpo, a uma velocidade média que pode chegar a 70 km/h (em determinados trechos). Ou a 20 km/h, se o passageiro der o azar de a composição em que ele embarcou estiver atrás de um trem cargueiro - que utiliza a mesma via e está autorizado a circular entre 9h e 15h30.

Os dois mundos, as duas ´categorias´ de usuários, já foram piores, como lembra a operadora de telemarketing Belame Duarte Leal, 25 anos, moradora em Francisco Morato. "Meu pai deixou de trabalhar em São Paulo depois de anos indo de trem, na pior hora, logo de madrugada, e ter de conviver com gente que escalava o vagão pela janela e ia lá em cima", conta a moça, fazendo referência aos ´surfistas ferroviários´ que, na década de 1980, arriscavam a vida viajando os cerca de 50 quilômetros entre Morato e a Capital sobre os vagões, driblando a fiação da rede.

Belame trabalha na Barra Funda e, caderno sobre o colo, vai estudando detalhes do negócio em que atua (é operadora de seguros). Ela (quase) só tem elogios ao sistema de transporte. O único "senão" é que a volta fica bem longe da tranquilidade da viagem de ida - e o jeito é se acomodar do jeito que dá, em pé mesmo, por uma viagem que, em média, demora 55 minutos entre Francisco Morato e a Luz (os jundiaienses precisam acrescentar cerca de 20 minutos ao percurso).

Muita coisa mudou, de fato, desde a extinção da ´espécie´ dos surfistas ferroviários. Os trens iam de portas abertas; hoje, não partem a menos que esteja tudo fechado; os problemas de infraestrutura - muitos, herdados da antiga malha da CBTU e Fepasa - foram sendo resolvidos, embora haja muita coisa a ser feita (leia nesta página); o sistema de policiamento implantado acabou, também, com as dúzias de ambulantes que ganhavam a vida vendendo toda sorte de bugigangas, salgados e doces de oridem prá lá de duvidosa. Hoje, ainda há alguns desavisados que arriscam a sorte: são barrados tão logo entram no vagão ou, no máximo, na estação seguinte - porque os agentes de segurança que circulam à paisana logo dão o alarme.

Confusões simples, como fumar dentro dos vagões, também terminaram. Afinal, basta que o incomodado (com essa ou qualquer outra irregularidade) saque o seu telefone celular e digite uma mensagem de texto para 97150-4949, informando o delito que está sendo praticado, os detalhes do carro, a linha em que está viajando e o número do veículo. Na estação seguinte, os seguranças entrarão no vagão para resolver o problema. O passageiro nem precisará se indispor para fazer a sua denúncia.

Não é que nosso transporte ferroviário seja de ´primeiro mundo´ - mas é, no mínimo, confortável para uma parcela de seus usuários. A parcela que, como Jamile Mendes de Almeida, moradora no Jardim Carlos Gomes, em Jundiaí, utiliza o trem esporadicamente para ir a São Paulo. "Não troco o trem por nada. É barato, é rápido, vou tranquila, sentada, até o metrô. Dependendo do horário, também volto de trem."

Ou a fração de trabalhadores formada pelo eletricista Cascimiro Alves Ferreira, morador em Morato que trabalha em Jundiaí. Na maioria das ocasiões, portanto, vai no contrafluxo. Mas nem sempre foi assim. "Já cheguei a trabalhar em Guarulhos. Ia de trem até a Zona Leste de São Paulo, depois encarava outra viagem até o bairro dos Pimenta, eram quase 4 horas de viagem entre casa e trabalho", conta.

Há, ainda, quem lembre que os finais de semana são outro caos, como diz a estudante de Comércio Exterior Sheila Martins. "Quis ir para São Paulo no sábado, esperei quase uma hora." A explicação da CPTM: a companhia tem utilizado o final de semana para acelerar as obras necessárias de estrutura

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