Um grupo de teatro, que percorre diversas cidades, esteve em Ferraz de
Vasconcelos para apresentar uma proposta diferente. Com tantas novidades
tecnológicas, eles queriam questionar para os passageiros de uma
estação de trem quando tinha sido a última vez que tinham escrito uma
carta. Ramilla Souza, integrante do grupo de teatro, explica que quem se
interessar pode parar, contar a sua história, tirar uma foto e a carta
será enviada pelo próprio grupo.
Entre o embarque e desembarque frenético, muitas cartas foram escritas
cheias de emoções. “O grupo trabalha com memória e narrativa, ou seja, a
gente pesquisa a história das pessoas.”
Em um ano e meio do Ateliê de Memória e Narrativa, do Coletivo Estopô
Balaio, já escreveu cerca de 300 cartas. A relação com as estações de
trem é antiga. “As estações são um local de passagem, onde as pessoas
estão indo e vindo. Nós temos espetáculos que acontecem dentro de
estações de trem”, completa Ramilla.
Além de cartazes que oferecem o serviço, uma música tocada na sanfona
ajuda a atrair o público. Histórias marcantes ficaram na memória de Ana
Carolina Marinho. “Nós estávamos na Estação do Brás escrevendo várias
cartas e aqui na estação de Ferraz passou um senhor e perguntou se a
gente reconhecia ele. Eu tinha escrito a carta dele lá em São Paulo e
ele enviou a carta para um hospital que cuidou dele quando ele sofreu o
acidente. Nós endereçamos a carta para os médicos e enfermeiros e ele
disse que recebeu a resposta dos enfermeiros. Ele disse que ficou muito
feliz por não terem esquecido dele.”
O português José Luís está no Brasil desde 2008. Veio para cá depois
que se apaixonou por sua esposa, mas deixou os pais que tanto ama. Para
ele, poder contar a sua história ajuda a matar a saudade. “Eu vi e
pensei que seria o momento de escrever uma carta para o meu pai e para a
minha mãe. Por muito pouco que a gente escreve numa carta já é muito
que se chega lá. A emoção já bateu aqui na hora.”
Costume em extinção
Um balanço dos Correios mostra que menos de 10% das correspondências não são comerciais. Em 2015, foram 133 milhões de cartas enviadas por pessoas físicas em todo o país.
As cartas, que parecem algo distante, ainda são bem vistas por Sérgio
Paulo dos Santos Gomes. “Se não for carta de cobrança está bom. Uma
carta da minha namorada seria legal.”
Yara Maria Queiroz Padilha disse que queria receber uma carta da mãe. “Queria que ela dissesse tudo o que ela sente.”
Para o metalúrgico Luiz Alberto Fernandes Gaspar, a recordação fica
para o resto da vida. “A gente faz tanta coisa pela internet e pelo
celular que não fica guardado. Carta é uma coisa que tem um
reconhecimento futuramente melhor.”
O projeto vai se despedir da Estação Ferraz de Vasconcelos amanhã (18/08/2016). Na sequência, segue para a Estação Itaquaquecetuba,
na Linha 12-Safira, também às quintas-feiras, nos dias 25/08, 1º,
8 e 15/09/2016, sempre das 10h às 13h.
Fonte da Notícia: G1
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