Trem Série 9000 da CPTM |
A CPTM, empresa que opera os trens no subúrbio da Grande São Paulo,
tem 116 funcionários com remuneração maior que a do Governador Geraldo
Alckmin, de R$ 21,6 mil -teto do funcionalismo estadual.
A
companhia, criticada por passageiros pela superlotação e falhas
recorrentes, é obrigada a respeitar o teto fixado na Constituição por
ser uma empresa pública dependente do poder público.
Em 2014, recebeu subvenção do governo de R$ 785 milhões, o equivalente a 38% da receita.
Em Outubro de 2015, empregados com cargos de chefia, como diretores, gerentes e
chefes de departamento receberam salários acima dos R$ 30 mil.
Já o
Metrô tinha 269 funcionários com salários maiores do que o de Alckmin
no mês. Mas, pela lei, não é obrigado a seguir o limite porque mantém
gastos com pessoal e custeio com recursos próprios.
A empresa vem
fazendo cortes para não perder esse status de independente do Estado,
que já banca os investimentos na ampliação da rede.
As duas
companhias registraram suas piores avaliações de usuários em uma década,
segundo a última pesquisa da ANTP.
O serviço do Metrô, que chegou a ter 93% de avaliação
positiva em 2006, viu o índice cair para 64% em 2014. Já na CPTM, no
período, o indicador foi de 50% para 40%.
"O Metrô tem alguns
cargos comissionados com salários altos sem necessidade, enquanto a
massa tem muitas horas extras e poucos funcionários", reclama o
presidente do sindicato dos metroviários, Altino Prazeres.
Decreto
A divulgação dos salários de 44 mil funcionários das empresas públicas estaduais foi determinada por Alckmin em agosto, mas o portal da transparência do Estado só passou a divulgar as informações na folha de pagamento de outubro -a mais recente disponibilizada.
Os valores
levados em consideração pela Folha não contabilizam benefícios
temporários como 13º e férias, que podem fazer a remuneração ultrapassar
a casa dos R$ 70 mil.
Os rendimentos também não seguem
necessariamente a lógica hierárquica. O presidente da CPTM, Paulo
Magalhães, recebeu abaixo do teto (R$ 20,6 mil), enquanto o gerente de
operações da empresa, Luiz Amstalden, teve remuneração de R$ 34 mil.
A
CPTM nega haver valores acima do teto, pois contabiliza apenas o
salário base, sem os adicionais, mesmo os que são pagos todos os meses.
O
Metrô considera apenas valores nominais e, por esse critério, diz ter
apenas 98 funcionários ocupando cargos com salários acima do teto.
Em julgamentos sobre salários, os tribunais superiores vêm decidindo que o cálculo do teto deve incluir adicionais e benefícios.
O
Tribunal de Contas do Estado, em posicionamento sobre salários da
Unicamp, afirmou que a jurisprudência "é firme no sentido de que não
existe direito adquirido ao recebimento de remuneração além do teto".
Entre
os funcionários com remuneração acima do teto, há ao menos seis do
Metrô e quatro da CPTM que foram citados nas investigações do cartel
acusado de fraudar licitações em São Paulo entre 1998 e 2008, em
sucessivos governos do PSDB.
Reynaldo Dinamarco (R$ 28,4 mil),
ex-presidente da comissão de licitações da CPTM, por exemplo, é acusado
de participação no cartel. Sérgio Corrêa Brasil (R$ 34,6 mil) e Conrado
Grava de Souza (R$ 33,6 mil), ex-diretores do Metrô, são acusados de
improbidade administrativa sob a alegação de que foram omissos e
permitiram irregularidades em licitações.
Todos os funcionários negam as acusações.
Outro lado
A CPTM afirma respeitar o teto do funcionalismo.
De
acordo com a companhia, o maior salário da empresa é de R$ 20,3 mil.
Nesse valor, não estão computadas verbas adicionais como insalubridade,
periculosidade, trabalho noturno e gratificação por tempo de serviço
-que podem somar mais de R$ 10 mil à remuneração total.
A empresa
pública afirma que, ao ser criada, herdou quadro de empregados das
empresas Fepasa e CBTU, assim como direitos trabalhistas já adquiridos.
Em
nota, a CPTM afirma ainda que solicitou à PGE que analise os componentes remuneratórios dos funcionários. "Se
constatadas irregularidades, as medidas cabíveis serão adotadas", afirma
a companhia, em nota.
De acordo com a empresa, na lista de nomes
apresentada pela reportagem há alguns que estão afastados por licença, o
que, devido a uma operação contábil, os joga para o topo, sem que eles,
de fato, recebam os valores mostrados. "Nesse caso, a empresa lança no
seu holerite o salário do mês, a gratificação anual e mais a
integralização do auxílio doença, porém desconta novamente o salário
integral do mês e gratificações", diz o comunicado.
O caso especificado pela CPTM, bem como o caso do Metrô, foram retirados da lista de vencimentos acima do teto pela reportagem.
O
Metrô afirma ter 98 e não 269 funcionários recebendo acima do teto. O
critério adotado pela empresa é de contabilizar apenas os salários
nominais. Por esse critério, o maior salário seria de R$ 25,3 mil, para
gerentes e assessores técnicos nível 4. No entanto, na prática, em
outubro a remuneração de alguns assessores e gerentes ultrapassa R$ 34
mil.
A empresa ressalta que não depende do Tesouro e tem regime de
contratações pela CLT. A estatal afirma que "pratica salários
específicos por categorias de cargos comportando progressões salariais
anuais por sistema de avaliação de desempenho".
A empresa também
afirma que sua política salarial é aprovada pela secretaria da Fazenda e
pela Comissão de Política Salarial da Casa Civil.
Tanto a CPTM
quanto o Metrô afirmam que a iniciativa de divulgar os salários faz
parte de ação do Governo Estadual "para aprimorar ainda mais o seu canal
de comunicação com a sociedade".
"São Paulo é considerado pela
CGU, juntamente com o Ceará, o Estado
mais transparente do Brasil", afirmam as empresas.
Fonte da Notícia: Revista Ferroviária
Imagem de Diego Silva
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