Segundo a imprensa a CPTM registrou, em 2012, 152
falhas. Resta saber se esse é o número da CPTM ou o monitorado pelos
jornalistas. Possivelmente a segunda alternativa. Isso equivale a algo em torno
de uma falha a cada 2,5 dias do ano, bem mais do que o secretário dos
Transportes Metropolitanos havia previsto, quando de seus muitos questionamentos
pela mídia, em meados de 2012.
Esse número certamente é maior. Prova disso é que
muitos veículos reportaram a falha de sexta-feira, dia 4 de janeiro, mas apenas
um registrou a falha do dia seguinte, sábado, dia 5 de janeiro, na zona leste.
Qual usuário nunca esteve embarcado em um trem, quando
o maquinista começa a abrir e fechar as portas, e em seguida anuncia que todos
devem descer e esperar pelo próximo, pois aquele será recolhido? Coisas
similares acontecem todos os dias. Falhas? Sim, mas não são percebidas e nem
contabilizadas. Conhecidas apenas as “grandes”, e mesmo assim se ocorrerem perto
da capital. As da periferia são tornadas públicas se há gente ferida, ou algum
quebra-quebra.
Já disse o secretário dos Transportes Metropolitanos
que o número de falhas da CPTM é compatível com o das demais ferrovias do
mundo. Nunca disse, porém, quais os números dessas ferrovias, e nem quais são
elas. Um “especialista” disse que as ferrovias europeias “escondem” seus
números, no mínimo imaginando que alguém acredite nisso. Bem, talvez em Suíça,
Suécia ou Dinamarca.
A direção da CPTM fala em uma escala de falhas.
Presume-se, portanto, que existem falhas pequenas, médias e grandes, embora não
tenhamos nenhuma ideia quanto aos critérios. Número de mortos, feridos, de
andarilhos pelos trilhos, de tempo para liberar a via, de intervalo entre trens?
O mesmo “especialista” - e que vende serviços de
segurança para ferrovias -, defende um instigante conceito de segurança: falha
segura. De acordo com ele ninguém precisa ficar preocupado com segurança, quando
nos trens, pois um choque entre eles ocorre em velocidade máxima de 20 km/hora.
Ele deve imaginar que os passageiros viajam todos sentados, e presos aos
assentos por cintos de segurança. Machucam-se, na pior das hipóteses, de acordo
com o “especialista”. Uma versão ferroviária do “estupra, mas não mata”. Não
morrendo passageiro, o que resta é
“desconforto”.
Quando de incidentes - mas principalmente de acidentes
-, a preocupação do governo e da empresa é buscar “culpados”, mas nunca
responsáveis. São os de sempre: ferroviários, vândalos e sabotadores. Os jargões
habituais são conhecidos - inquérito e investigação – e fazem parte da “operação
abafa”. Os resultados são sempre desconhecidos, e ninguém responsabilizado. No
que deu, por exemplo, o de Campos do Jordão?
A única mudança ocorreu na interlocução com a
imprensa. Começou com gestores da CPTM. Passou para setor de comunicação da
empresa. Depois o secretário dos Transportes Metropolitanos, e finalmente o
próprio governador. Desencontros de versões oficiais não faltaram. Em completo
desespero desalojam o sindicato da sede social, perseguem alguns sindicalistas
nos locais de trabalho, e ainda colocam a polícia para investigar um deles. Não
seria melhor investigar mortes nos trilhos, lembrando que tivemos sete em menos
de um ano?
Estão comprando trens novos? Estão. Estão remodelando
algumas linhas? Estão. Essas medidas vão resolver os problemas?
Não.
Por quê? Porque as pessoas são as mesmas, a
mentalidade é a mesma, e as práticas são as mesmas. Os mesmos diretores,
gerentes, fornecedores e “especialistas”. Como essas variáveis são constantes,
os resultados (ou a ausência deles) são igualmente constantes.
Governo e CPTM querem convencer que herdaram uma
ferrovia arcaica, de onde as dificuldades de “modernização”. Não dizem, porém,
que essa herança ocorreu há 20 anos, quando direta e indiretamente passou a ser
controlada pelo mesmo governo, e por parte dos atuais gestores. Não existe,
portanto, nenhuma inocência
A ausência de uma legislação, que subordine os trens
de passageiros a critérios de qualidade e de segurança, permite que governo e
CPTM criem seus próprios critérios, e nada os obriga a explicitá-los. Nessa
medida, podem fazer o que bem entendem, pois não devem satisfações a não ser a
si mesmos.
Vale a mesma condição imperial ao Metrô, mas nele foi
adotada a fiscalização de uma agência certificadora externa. Nada similar na
CPTM.
Nesse quadro, não vejo nenhum motivo para acreditar
que, em 2013, as coisas melhorem de forma significativa nos trilhos da CPTM. Os
usuários continuarão alijados dos planos da empresa, e o governo fechado para
críticas e até mesmo sugestões. Que façam, portanto, o que bem entenderem, mas
terão que conviver com nossa presença muito atenta.
O
FERROVIÁRIO: UMA NOVELA SOBRE TRENS. DE SEGUNDA Á SEXTA NO BLOG JORNAL DA CPTM.
www.jornaldacptm.blogspot.com.br
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